Marcelo Sales é um empreendedor, e um nerd, e tem muito orgulho disso. O
primeiro negócio dele foi vender suco de uva na rua, e foi aí que as
conexões começaram a mover sua vida. Sem dúvida, essa é uma das
histórias mais incríveis do empreendedorismo brasileiro, contada com
maestria e bom-humor fantásticos. Coragem, perseverança, confiança e determinação.Assista ao Day1 promovido pela Endeavor Brasil.
By CAMILA GUIMARÃES E LUIZA KARAM, COM ISABELLA AYUB
"A educação moderna exagerou no culto à autoestima – e produziu adultos que se comportam como crianças. Como enfrentar esse problema"
Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino médio dos
Estados Unidos, a Wellesley High School, em Massachusetts, estavam
reunidos, numa tarde ensolarada no mês passado, para o momento mais
especial de sua vida escolar, a formatura. Com seus chapéus e becas
coloridos e pais orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o
discurso do professor de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como
sempre nessas ocasiões, uma ode a seus feitos acadêmicos, esportivos e
sociais. O que ouviram do professor, porém, pode ser resumido em quatro
palavras: vocês não são especiais. Elas foram repetidas nove vezes em 13
minutos. “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins
sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough logo no começo.
“Adultos ocupados mimam vocês, os beijam, os confortam, os ensinam, os
treinam, os ouvem, os aconselham, os encorajam, os consolam e os
encorajam de novo. (...) Assistimos a todos os seus jogos, seus
recitais, suas feiras de ciências. Sorrimos quando vocês entram na sala e
nos deliciamos a cada tweet seus. Mas não tenham a ideia errada de que
vocês são especiais. Porque vocês não são.”
O que aconteceu nos dias seguintes deixou McCullough atônito. Ao chegar
para trabalhar na segunda-feira, notou que havia o dobro da quantidade
de e-mails que costumava receber em sua caixa postal. Paravam na rua
para cumprimentá-lo. Seu telefone não parava de tocar. Dezenas de
repórteres de jornais, revistas, TV e rádio queriam entrevistá-lo. Todos
queriam saber mais sobre o professor que teve a coragem de esclarecer
que seus alunos não eram o centro do universo. Sem querer, ele tocara
num tema que a sociedade estava louca para discutir – mas não tinha
coragem. Menos de uma semana depois, McCullough fez a primeira aparição
na TV. Teve de explicar que não menosprezava seus jovens alunos, mas
julgava necessário alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes, pude
ver como eles crescem cercados por adultos que os tratam como
preciosidades”, disse ele a ÉPOCA. “Mas, para se dar bem daqui para a
frente, eles precisam saber que agora estão todos na mesma linha, que
nenhum é mais importante que o outro.”
A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer apenas mais
um desses fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele
tocou numa questão que incomoda pais, educadores e empresas no mundo
inteiro – a existência de adolescentes e jovens adultos que têm uma
percepção totalmente irrealista de si mesmos e de seus talentos. Esses
jovens cresceram ouvindo de seus pais e professores que tudo o que
faziam era especial e desenvolveram uma autoestima tão exagerada que não
conseguem lidar com as frustrações do mundo real. “Muitos pais modernos
expressam amor por seus filhos tratando-os como se eles fossem da
realeza”, afirma Keith Campbell, psicólogo da Universidade da Geórgia e
coautor do livro Narcisism epidemic (Epidemia narcisista), de
2009, sem tradução para o português. “Eles precisam entender que seus
filhos são especiais para eles, não para o resto do mundo.”
Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço
formam a turma do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os
melhores alunos (se tiram uma nota ruim, é o professor que não os
entende). Eles se acham os mais competentes no trabalho (se recebem
críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). Eles
se acham merecedores de constantes elogios e rápido reconhecimento (se
não são promovidos em pouco tempo, a empresa foi injusta em não
reconhecer seu valor). Você conhece alguém assim em seu trabalho ou em
sua turma de amigos? Boa parte deles, no Brasil e no resto do mundo, foi
bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala outras línguas e,
claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato.
Mas se acham mais do que ótimos.
“Esse grupo tem dificuldade em aceitar críticas e tarefas que não
consideram a sua altura”, diz Daniela do Lago, especialista em
comportamento no trabalho e professora da Fundação Getulio Vargas.
Daniela conta que, recentemente, uma das empresas para a qual dá
consultoria selecionava candidatos ao cargo de supervisor. A gerente do
departamento de marketing fazia as entrevistas, e uma de suas
estagiárias a procurou, se candidatando ao cargo. A gerente disse que
gostara da iniciativa ousada, mas respondeu que a moça ainda não estava
madura nem preparada para assumir a função. Ela fora contratada havia
apenas dois meses. Mesmo assim não gostou da resposta. “Achou que sofria
perseguição”, diz Daniela. Dentro das empresas brasileiras, esse tipo
de comportamento já foi identificado como a principal causa da
volatilidade da mão de obra jovem. A Page Personnel, uma das maiores
empresas de recrutamento de jovens em início de carreira, fez um
levantamento entre brasileiros de até 30 anos sobre suas expectativas de
promoção. Quase 80% responderam que pretendem mudar de empresa se não
forem promovidos.
A expectativa exagerada dos jovens foi detectada no livro Generation me (Geração eu),
escrito em 2006 por Jean Twenge, professora de psicologia da
Universidade Estadual de San Diego. No trabalho seguinte, em parceria
com Campbell, ela vasculhou os arquivos de uma pesquisa anual feita
desde os anos 1960 sobre o perfil dos calouros nas universidades.
Descobriu que os alunos dos anos 2000 tinham traços narcisistas muito
mais acentuados que os jovens das três décadas anteriores. Em 2006, dois
terços deles pontuaram acima da média obtida entre 1979 e 1985. Um
aumento de 30%. “O narcisismo pode levar ao excesso de confiança e a uma
sensação fantasiosa sobre seus próprios direitos”, diz Campbell.
Os maiores especialistas no assunto concordam que a educação que esses
jovens receberam na infância é responsável por seu ego inflado e
hipersensível. E eles sabem disso. Uma pesquisa da revista Time e
da rede de TV CNN mostrou que dois terços dos pais americanos acreditam
que mimaram demais sua prole. Sally Koslow, uma jornalista aposentada,
chegou a essa conclusão depois que seu filho, que passara quatro anos
estudando fora de casa e outros dois procurando emprego, voltou a morar
com ela. “Fizemos um superinvestimento em sua educação e acompanhamos
cada passo para garantir que ele tivesse sua independência”, diz ela.
“Ao ver meu filho de quase 30 anos andando de cueca pela sala, percebi
que deveria tê-lo deixado se virar sozinho.”
A mensagem
Para os mimados É possível combater na vida adulta os efeitos de uma criação permissiva demais Para os pais Inflar a autoestima das crianças não é o melhor caminho para o sucesso delas na vida adulta
Que criação é essa que, mesmo com a garantia da melhor educação e sem
falta de atenção dos pais, produz legiões de narcisistas com dificuldade
de adaptação? Os estilos de criação modernos têm em comum duas
características. A primeira é o esforço incansável dos pais para
garantir o sucesso futuro de sua prole – e esse sucesso depende, mais do
que nunca, de entrar numa boa universidade e seguir uma carreira
sólida. Nos Estados Unidos, a tentativa de empacotar as crianças para
esse modelo de vida começa desde cedo. Escolas infantis selecionam bebês
de 2 anos por meio de testes. Isso acontece no Brasil também. No
colégio paulista Vértice, um dos mais bem classificados no ranking do
Enem, há fila para uma vaga no jardim da infância.
O segundo pilar da criação moderna está na forma que os pais
encontraram para estimular seus filhos e mantê-los no caminho do
sucesso: alimentando sua autoestima. É uma atitude baseada no Movimento
da Autoestima, criado a partir das ideias do psicoterapeuta canadense
Nathaniel Branden, hoje com 82 anos. Em 1969, ele lançou um livro
pregando que a autoestima é uma necessidade humana. Não atendida, ela
poderia levar a depressão, ansiedade e dificuldades de relacionamento.
Para Branden, a chave para o sucesso tanto nas relações pessoais quanto
profissionais é nutrir as pessoas com o máximo possível de autoestima
desde crianças. Tal tarefa, diz ele, cabe sobretudo a pais e
professores. Foi uma mudança radical na maneira de olhar para a questão.
Até a década de 1970, os pais não se preocupavam em estimular a
autoestima das crianças. Temiam mimá-las. O movimento de Branden chegou
ao auge nos Estados Unidos em 1986, quando o então governador da
Califórnia, George Deukmejian, assinou uma lei criando um grupo de
estudos de autoestima. Os pesquisadores deveriam descobrir como as
escolas e as famílias poderiam estimulá-la.
Os pais reuniram esses dois elementos – o desejo de ver o filho se dar
bem na vida e a ideia de que é preciso estimular a autoestima – e
fizeram uma tremenda confusão. Na ânsia de criar adultos competentes e
livres de traumas, passaram a evitar ao máximo criticá-los. O elogio
virou obrigação e fonte de trapalhadas. Para fazer com que as crianças
se sintam bem com elas mesmas, muitos pais elogiam seus filhos até
quando não é necessário. O resultado é que eles começam a acreditar que
são bons em tudo e criam uma imagem triunfante e distorcida de si
mesmos. Como distinguir o elogio bom do ruim? O exemplo mais comum de
elogio errado, dizem os psicólogos, é aquele que premia tarefas banais.
Se a criança sabe amarrar o tênis, não é necessário parabenizá-la por
isso todo dia. Se o adolescente sabe que é sua obrigação diária ajudar a
tirar a mesa, diga apenas obrigado. Não é preciso exaltar sua
habilidade em dobrar a toalha. Os elogios mais inadequados são feitos
quando não há nada a elogiar. Se o time de futebol do filho perde de
goleada – e o desempenho dele ajudou na derrota –, não adianta dizer:
“Você jogou bem, o que atrapalhou foi o gramado ruim”. Isso não é
elogio. É mentira.
Para piorar, um grupo de psicólogos afirma agora que a premissa
fundamental do movimento da autoestima estava errada. “Há poucas e
fracas evidências científicas que mostram que alta autoestima leva ao
sucesso escolar ou profissional”, diz Roy Baumeister, professor de
psicologia da Universidade Estadual da Flórida. Ele é responsável pela
mais extensa e detalhada revisão dos estudos feitos sobre o tema desde a
década de 1970. Descobriu que a autoestima alta é provocada pelo
sucesso – não é causa dele. Primeiro vêm a nota boa e a promoção no
trabalho, depois a sensação de se sentir bem – não o contrário. “Na
verdade, a autoestima elevada pode ser muitas vezes contraproducente.
Ela produz indivíduos que exageram seus feitos e realizações.” Outra de
suas conclusões é que o elogio mal aplicado pode ser negativo. “Quando
os elogios aos estudantes são gratuitos, tiram o estímulo para que os
alunos trabalhem duro”, afirma.
Narcisistas sem rumo
Com uma visão distorcida de suas qualidades, com dificuldade para lidar
com as críticas e aprender com seus erros, muito jovens narcisistas não
conseguem se acertar em nenhuma carreira. Outros vão parar na terapia.
Esses jovens acham que podem muito. Quando chegam à vida adulta,
descobrem que simplesmente não dão conta da própria vida. Ou sentem uma
insatisfação constante por achar que não há mais nada a conquistar. Eles
são estatisticamente mais propensos a desenvolver pânico e depressão.
Também são menos produtivos socialmente.
Em terapia desde os 15 anos, Priscila Pazzetto tem hoje 25 e não
hesita em dizer que foi e ainda é mimada. “Uma vez pedi para minha mãe
me pôr de castigo, porque não sabia como era”, afirma. Os pais se
referem a ela como “nossa taça de champanhe”, a caçula de três irmãos
que veio brindar a felicidade da família num momento em que seu pai
lutava contra um câncer. “Nasci no Ano-Novo. Quando assistia às chuvas
de fogos na TV, meus pais diziam que aquilo tudo era para mim, para
comemorar meu aniversário”, diz Priscila.
Quando cresceu, nada disso a ajudou a terminar o que começava. Tentou
inglês, teatro, tênis, caratê, futebol, jiu-jítsu e natação. Interrompeu
até o hipismo, pelo qual era apaixonada. Estudou em sete colégios
particulares de São Paulo e, com frequência, seu pai precisou interferir
para que ela passasse de ano. Passou em três vestibulares, mas não
concluiu nenhum curso superior. “Simplesmente não me sinto motivada a ir
até o fim”, afirma. Ainda morando com os pais, Priscila acaba de fazer
um curso técnico de maquiagem e diz que arrumou emprego na butique de
uma amiga. Tenta de novo começar.
Claro, nem todos da turma do “eu me acho” estão sem rumo. Muitos são
empreendedores bem-sucedidos, e seu estilo de vida – independente,
inquieto, individualista – tem defensores ferozes. Um deles é a
escritora americana Penelope Trunk, uma ex-jogadora de vôlei de praia
que se tornou a maior propagandista da geração nascida na década de
1980, chamada nos Estados Unidos de geração Y. “Qual o problema em se
sentir o máximo?”, diz ela. “Se você se sente incrível, tem mais chances
de fazer coisas incríveis, sem ligar para pessoas que recomendam o
contrário.” Quando os integrantes da turma do “eu me acho” conseguem
superar o fato de não ser perfeitos e se põem a usar com dedicação a
excelente bagagem técnica e cultural que receberam, coisas muito boas
podem acontecer.
Aos 20 anos, no início de sua carreira, o paulistano Roberto Meirelles,
hoje com 26, conseguiu seu primeiro estágio. Seu sonho era se tornar
diretor de arte. Morava com a mãe numa casa confortável, tinha seu
próprio carro e não sofria nenhuma pressão para sair de casa. Resolveu
trabalhar até de graça. Aos 24 anos, foi promovido e assumiu o cargo que
almejava. Chamou os amigos e deu uma festa. Seus pais ficaram
orgulhosos. Sete meses depois, assinou sua carta de demissão. Não era
aquilo que ele realmente queria. Seus antigos colegas de trabalho riram
ao ouvir que ele estava deixando a agência para “fazer algo em que
acreditava”. Seus pais não compreenderam o que ele queria dizer com
“curadoria de conhecimento”, expressão que usou para definir seu
empreendimento. Apesar da descrença geral, ele foi em frente e criou com
dois amigos uma empresa que seleciona informação e organiza estudos
sobre temas diversos, para vendê-los no mercado corporativo e para
pessoas físicas. Com dois anos recém-completados, a Inesplorato
conseguiu faturamento de R$ 1,4 milhão. “Minha maior conquista foi
conseguir ganhar dinheiro com uma ideia própria. Eu amo isso”, diz
Meirelles.
Uma das conclusões a que o psicólogo Baumeister chegou na revisão dos
estudos sobre autoestima pode servir de esperança para os jovens da
geração “eu me acho” que ainda estão perdidos: a autoestima produz
indivíduos capazes de fazer grandes reviravoltas em sua vida. Justamente
por ter um ego exaltado, eles têm a ferramenta para ser mais
persistentes depois de um fracasso. Em seu último livro, Força de vontade
(Editora Lafonte), Baumeister dá outra dica de como conduzir a vida:
ter controle dos próprios impulsos é mais importante que a autoestima
como fator de sucesso. “A força de vontade é um dos ingredientes que nos
ajudam a ter autocontrole. É a energia que usamos para mudar a nós
mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”, disse ele a ÉPOCA no
ano passado.
Também há esperança para os pais que se pegam diariamente na dúvida
sobre como lidar com suas crianças. Muitos deles conseguem criar seus
filhos equilibrando limite e afeto e ensinando a lidar com frustrações
sem ferir a autoestima (leia os quadros acima). Na casa de
Maria Soledad Más, de 49 anos, e Helder, de 35, pais de Natália, de 9
anos, e Mariana, de 11, os direitos estão ligados ao merecimento e a
responsabilidades. “As meninas aprenderam a lidar com erros e
frustrações desse jeito”, diz Helder. Para Mariana, uma frustração é não
ter celular, já que a maioria das amiguinhas tem seu próprio aparelho.
“Explico a ela que ter celular envolve responsabilidade e que ela é
muito nova”, diz a mãe. “Claro que esse assunto sempre volta à tona, mas
não incomoda. Ela acata bem nossas decisões.”
Esses modelos de criação domésticos são chamados pelos psicólogos de
“estilo parental”. Não é uma atitude isolada ou outra. É o clima
emocional criado na família graças ao conjunto de ações dos pais para
disciplinar e educar os filhos. Eles começaram a ser estudados em 1966
pela psicóloga Diana Baumrind, pesquisadora da Universidade da
Califórnia em Berkeley. De acordo com sua observação, ela dividiu os
pais em três tipos: os autoritários, os permissivos e aqueles que têm
autoridade, os competentes. O melhor modelo detectado por psicólogos,
claro, são os pais competentes. Eles são exigentes – sabem exercer o
papel de pai ao impor limites e regras que os filhos devem respeitar –,
mas, ao mesmo tempo, são flexíveis para escutar as demandas das crianças
e ceder, se julgarem necessário. A criança pode questionar por que não
pode brincar antes de fazer o dever de casa, e eles podem topar que ela
faça como queira, contanto que o dever seja feito em algum momento. Mas
jamais admitirão que a criança não cumpra com sua obrigação. Ao dar
limites, podem ajudar o filho a aprender a escolher e a administrar seu
tempo. Os filhos de pais competentes costumam ser muito responsáveis,
seguros e maduros. Têm altos índices de competência psicológica e baixos
índices de disfunções sociais e comportamentais .
Os piores resultados vêm da criação de pais negligentes. Eles não são
exigentes, não impõem limites e nem estão abertos a ouvir as demandas
dos filhos. Segundo pesquisas brasileiras – com amostras pequenas, que
não devem ser tomadas como definitivas –, esse é o estilo parental que
predomina no país nos últimos anos. Quando se fala em estilo negligente
de criação, isso não quer dizer que a criança está abandonada e não
receba o suficiente para suprir suas necessidades materiais e de afeto. O
problema é mais sutil. Com medo de parecer repressores, esses pais
hesitam em impor limites. “É uma interpretação errônea dos modelos
educacionais propostos a partir da década de 1970. Eles pregavam que a
criança não deveria ser cerceada para que pudesse manifestar todo seu
potencial”, diz Claudete Bonatto Reichert, professora do Departamento de
Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. “Provavelmente, a culpa
que os pais sentem por trabalhar fora leva a isso.”
Se parece difícil implantar em sua casa o modelo dos pais com
autoridade, ainda há outra esperança. Nem todos concordam que os pais
sejam totalmente responsáveis pela formação da personalidade dos filhos.
A psicóloga britânica Judith Harris, de 74 anos, ficou famosa por
discordar do tamanho da influência dos pais na criação dos filhos. Para
ela, se os filhos lembram em algo os pais, não é graças à educação, mas à
genética. “Os pais assumem que ensinaram a seus filhos comportamentos
desejáveis. Na verdade, foram seus genes”, afirma. O resto, diz Judith,
ficará a cargo dos amigos, a quem as crianças se comparam. É por isso
que ela acha inútil tentar dar aos filhos uma criação diferente da turma
do “eu me acho”. “Houve uma mudança enorme na cultura”, afirma. “As
crianças são vistas como infinitamente preciosas. Recebem elogios demais
não só em casa, mas em qualquer lugar aonde vão. O modelo de criação
reflete a cultura.”
“Ficar com muita gente é fácil”, diz um amigo meu, com pouco mais de 25 anos. “Difícil é achar alguém especial”. Faz
algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar por que,
em meio a tantas garotas bonitas, a tantas baladas e viagens, ele não
se decidia a namorar.
Ele não disse que estava sobrando
mulher. Não disse que seria um desperdício escolher apenas uma. Não
falou em aproveitar a juventude ou o momento e nem alegou que teria
dificuldade em escolher. Disse apenas que é difícil achar alguém
especial.
Na hora, parado com ele na porta do elevador,
aquilo me pareceu apenas uma desculpa para quem, afinal, está curtindo a
abundância. Foi depois que eu vim a pensar que existe mesmo gente
especial, e que é difícil topar com uma delas.
Claro, o
mundo está cheio de gente bonita. Também há pessoas disponíveis para
quase tudo, de sexo a asa delta. Para encontrar gente animada, basta ir
ao bar, descobrir a balada, chegar na festa quando estiver bombando. Se
você não for muito feio ou muito chato, vai se dar bem. Se você for
jovem e bonita, vai ter possibilidade de escolher. Pode-se viver assim
por muito tempo, experimentando, trocando de gente sem muita dor e quase
sem culpa, descobrindo prazeres e sensações que, no passado, estariam
proibidos, especialmente às mulheres.
Mas talvez isso tudo não seja suficiente.
Talvez
seja preciso, para sentir-se realmente vivo, um tipo de sensação que
não se obtém apenas trocando de parceiro ou de parceira toda semana.
Talvez seja preciso, depois de algum tempo na farra, ficar apaixonado.
Na verdade, ficar apaixonado pode ser aquilo que nós procuramos o tempo
inteiro – mas isso, diria o meu jovem amigo, exige alguém especial.
Desde
que ele usou essa fatídica expressão, eu fiquei pensando, mesmo contra a
minha vontade, sobre o que seria alguém especial, e ainda não encontrei
uma resposta satisfatória. Provavelmente porque ela não existe.
Você
certamente já passou pela sensação engraçada de ouvir um amigo
explicando, incansavelmente, por que aquela garota por quem ele está
apaixonado é a mulher mais linda e mais encantadora do mundo – sem que
você perceba, nela, nada de especial. OK, a garota é bonitinha. OK, o
sotaque dela é charmoso. Mas, quem ouvisse ele falando, acharia que está
namorando a irmã gêmea da Mila Kunis. Para ele ela é única e quase
sobrenatural, e isso basta.
Disso se deduz, eu acho, que a pessoa especial é aquela que nos faz sentir especial.
Tenho
uma amiga que anda apaixonada por um sujeito que eu, com a melhor boa
vontade, só consigo achar um coxinha. Mas o tal rapaz, que parece que
nasceu no cartório, faz com que ela se sinta a mulher mais sensual e
mais arrebatada do planeta. É uma química aparentemente inexplicável
entre um furacão e um copo de água mineral sem gás, mas que parece
funcionar maravilhosamente. Ela, linda e selvagem como um puma da
montanha, escolheu o cara que toma banho engravatado, entre tantos
outros que se ofereciam, por que ele a faz sentir-se de um modo que
ninguém mais faz. E isso basta.
É preciso admitir que há
gente que parece especial para todo mundo. Não estou falando de atores e
atrizes ou qualquer dessas celebridades que colonizam as nossas
fantasias sexuais como cupins. Falo de gente normal extremamente
sedutora. Isso existe, entre homens e entre mulheres. São aquelas
pessoas com quem todo mundo quer ficar. Aquelas por quem um número
desproporcional de seres humanos é apaixonado. Essas pessoas existem,
estão em toda parte, circulam entre nós provocando suspiros e viradas de
pescoço, mas não acho que sejam a resposta aos desejos de cada um de
nós. Claro, todo mundo quer uma chance de ficar com uma pessoa dessas.
Mas, quando acontece, não é exatamente aquilo que se imaginava. Você
pode descobrir que a pessoa que todo mundo acha especial não é especial
para você.
Da minha parte, tendo pensado um pouco, acho
que a pessoa especial é aquele que enche a minha vida. Ela é a resposta
às minhas ansiedades. Ela me dá aquilo que eu nem sei que eu preciso –
às vezes é paz, outras vezes confusão. Eu tenho certeza que ela é linda
por que não consigo deixar de olhá-la. Tenho certeza que é a pessoa mais
sensual do mundo, uma vez que eu não consigo tirar as mãos dela.
Certamente é brilhante, já que ela fala e eu babo. E, claro, a mulher
mais engraçada do mundo, pois me faz rir o tempo inteiro. Tem também um
senso de humor inteligentíssimo, visto que adora as minhas piadas. Com
ela eu viajo, durmo, como, transo e até brigo bem. Ela extrai o melhor e
o pior de mim, faz com que eu me sinta inteiro.
Deve ser
isso que o meu amigo tinha em mente quando se referia a alguém
especial. Se for isso vale a pena. As pessoas que passam na nossa vida
são importantes, mas, de vez em quando, alguém tem de cavar um buraco
bem fundo e ficar. Essas são especiais e não são fáceis de achar.
Manifestos são poderosos catalisadores. Ao afirmar
publicamente suas opiniões e intenções, cria-se um pacto para agir. São
exemplos de Manifestos a Declaração de Independência do Brasil, a Declaração de Independência Americana, o Dogma 95 e o Firefox Web Browser. Se
você quer mudar o mundo, ou mesmo realizar uma pequena mudança, criar
um manifesto pessoal ou empresarial é um ótimo jeito para começar.
Antes de lançar a Behance em 2006, a empresa definiu um conjunto de crenças e princípios
que norteiam a empresa. Nos manifestos estão seus princípios e suas
crenças. E no caso de um manifesto empresarial para todas as decisões da
empresa, do planejamento do lançamento de um produto ou serviço à
contratação de um profissional, correspondem ao que está escrito no
manifesto.
Para exemplificar melhor o que está escrito acima, abaixo apresento 10 exemplos de manifestos:
6. Valorização do trabalho como idéia e da idéia de como o trabalho.
7. Fertilidade de imaginação.
8. Capacidade de fé e rebelião.
9. Desconsideração para a elegância comum.
10. Cooperação instintiva.
O manifesto foi escrito com o objetivo de orientar os aprendizes que trabalharam com ele em sua escola.
2. Manifesto Imperdoável do comerciante Seth Godin.
1. As maiores inovações parecem vir
daqueles que são auto-suficientes. Dos indivíduos que vão ao objetivo e
fazem alguma coisa de que vale a pena falar. Não sozinho, claro, mas
como instigador de uma equipe. Em duas palavras: não se acomode.
2. Os maiores comerciantes fazem duas coisas: eles tratam os clientes com respeito e eles medem.
3. Os maiores vendedores entendem que as pessoas resistem à mudança e que “não” é a maneira mais fácil de vender.
4. Os maiores blogueiros escrevem para os seus leitores, não para si mesmos.
5. O que existe a ‘curto prazo’, torna-se
rapidamente ontem. O que existe a longo prazo, por outro lado,
permanece por muito tempo.
6. A internet não esquece. E mais cedo ou mais tarde, a internet descobre.
7. Todo mundo é um comerciante, mesmo as
pessoas e organizações que não tem mercado. Na verdade, eles são apenas
os comerciantes que estão fazendo isso mal.
8. Organizações incríveis são aquelas em
que as pessoas recebem recompensas que mais do que compensam o esforço
necessário para ser tão bom.
5. Tenha uma meta para toda a sua vida,
uma meta para cada fase da sua vida, uma meta para um período mais curto
e uma meta para o ano, uma meta para cada mês, uma meta para cada
semana, um objetivo para cada dia, um objetivo para cada hora e cada
minuto, e sacrifique o menor objetivo pelo maior.
6. Mantenha-se longe das mulheres. (hahahaha sério?!)
7. Sacrifique o desejo pelo trabalho.
8. Seja bom, mas tente não deixar ninguém saber.
9. Sempre leve uma vida menos cara do que você pode pagar.
10. Não mude nada em seu estilo de vida, ao mesmo que você fique dez vezes mais rico.
5. Manifesto da Apple
1. Acreditamos que estamos na face da terra para fazer ótimos produtos.
2. Estamos constantemente focando em inovar.
3. Acreditamos no simples não no complexo.
4. Nós acreditamos que precisamos possuir
e controlar as principais tecnologias por trás dos nossos produtos e
participaremos apenas dos mercados onde podemos fazer uma contribuição
significativa.
5. Nós acreditamos em dizer não aos milhares de projetos para que possamos focar nos poucos que são significativos para nós.
6. Nós acreditamos em colaboração profunda e polinização cruzada, a fim de inovar de uma forma que os outros não podem.
7. Não nós contetamos com outra coisa senão a excelência em qualquer grupo na empresa.
8. Nós temos a auto-honestidade de admitir quando estamos errados e coragem para mudar.
6. Manifesto Geração Empreendedora
7. Steve Blank
8. Nike - Not Without a Fight
9. The Holstee Manifesto
10. Movimento Comunicação
Qual é o seu Manifesto?
Você tem um manifesto pessoal que você gostaria de compartilhar?